Dr. Paulo Lima*
Os meus escritos são, invariavelmente sobre questões do cotidiano político. Entretanto hoje vou começar de forma diferente. No meu tempo de escola, para você começar o ginasial era necessário que você fizesse o exame admissional. Era o chamado “admissão ao ginásio” e para tanto tínhamos que ter noções gerais de matemática, ciência, português e, claro, história do Brasil. Ali aprendíamos que o Brasil, pós-descobrimento, foi dividido em sesmarias e entregue a Senhores, alguns nobres, pelo Rei de Portugal. Eram as chamadas “Capitanias Hereditárias”. Somente duas prosperaram; São Vicente, em São Paulo e Pernambuco.
Mas, talvez você, que me lê neste momento esteja a se perguntar: o que é que isto tem a ver com política? E respondo, quase tudo.
É que se atentarmos bem como é feita a política em nosso País vamos chegar a inarredável conclusão de que pouco mudou desde a época do Brasil-Colônia. Não estou exagerando e vou dar um exemplo. Nestes últimos dias o que mais se tem comentado na política de nosso Estado e mesmo no âmbito nacional é a eleição para a concorrida vaga de ministro do Tribunal de Contas da União, um cargo político e vitalício dos mais interessantes e um dos salários mais altos da República.
Temos lido quase que diariamente que o Governador do Estado, EDUARDO CAMPOS, tem estado mais em Brasília que aqui, promovendo gestões em defesa da candidatura de sua mãe, a Deputada ANA ARRAES, cuja eleição será dia 21 deste mês. E se não estiver enganado a mesma vai ganhar este valioso presente do seu filho. Presente e tanto!
É sobre este fato que lanço meus questionamentos: é certo, do ponto de vista ético, que o governador queira fazer de sua mãe Ministra do Tribunal de Contas da União? Sinceramente tenho minhas dúvidas. Sabemos que o referido cargo é político; mas, até que ponto é certo o governador do Estado querer, a todo custo, colocar lá a sua mãe? Quais são os relevantes serviços prestados pela Nobre Deputada ao nosso País, para merecer tão elevado (e valioso) cargo? Ser mãe do governador não é o bastante.
O certo é que estes Senhores, que se dizem donos da política, os chamados “caciques”, no mais das vezes buscam tão somente se dar bem. Aqui na nossa bela “Dália da Serra”, bem pertinho de nós, temos exemplos do que estou falando. Na realidade, repise-se, alguns cargos públicos em nosso País assemelham-se a sesmarias, que são entregues a seus donatários como se fosse um presente do Rei. Mas isto não é novidade. Vocês lembram quando o então governador MIGUEL ARRAES, um dos maiores nomes da política do Brasil, quis eleger a todo custo, o seu neto, o hoje governador EDUARDO CAMPOS, prefeito do Recife? Naquela época o povo disse não.
Aqui cabe um parênteses: quero dizer da minha admiração por aquele grande homem e quero dizer que sempre votei nele, com exceção de uma única vez, quando, ao chegar na urna me “deu um branco”, esqueci que o seu número era 4040 e findei por votar no 1111 do deputado FERNANDO FERRO. Até parece que havia “fumado crack”, como diria a minha amiga ROSE.
Mas, EDUARDO, um grande homem público, saliente-se, é acima de tudo uma pessoa de sorte. Findou por ser eleito Governador, graças a ajuda dos seus fracos adversários na época, HUMBERTO COSTA e MENDONÇA FILHO. Esses dois, também grandes homens públicos são muito ruins de voto, convenhamos. MENDONÇA vem de duas derrotas consecutivas e HUMBERTO, no meu modesto entender, somente foi eleito Senador porque foi “puxado” pela reeleição de EDUARDO CAMPOS.
Mas, repiso, o que não acho eticamente louvável é o Governador querer fazer de sua mãe, igualmente uma mulher honrada, Ministra do TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO. Só vejo uma explicação: dar de presente a ela um cargo vitalício e um salário de fazer inveja a qualquer um.
Acredito que esta é uma forma canhestra de nepotismo e ofende um dos princípios assentes na vigente Constituição Federal, qual seja, o princípio da impessoalidade. É apenas uma opinião pessoal, ressalte-se.
E não se admirem se, em sendo eleita dona ANA ARRAES, logo, logo teremos a mulher do governador como candidata e futura deputada estadual. Vocês tem dúvidas de que isto é possível? O tempo dirá.
Esta, senhores é a política das capitanias hereditários, a política do nosso Brasil. Um dia a coisa muda...
Em tempo: se alguém tiver interesse sugiro consultar o currículo da Deputada ANA ARRAES no conhecido “Dr. GOOGLE”.
Um abraço a todos.
*PAULO ROBERTO DE LIMA é graduado em Filosofia pela Universidade Católica, bacharel em Direito pela Faculdade de Direito do Recife e atualmente exerce o cargo de Procurador Federal.
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